Friday 25 October 2013

A SOCIEDADE DOS FILHOS ÓRFÃOS - Sergio Sinay

Crítico severo do modelo social em que vivemos, o argentino Sergio Sinay, terapeuta, palestrante e pesquisador dos vínculos humanos, sustenta neste livro a predominância atual de uma "sociedade de filhos órfãos" de pais vivos. Para ele, não basta colocar um filho no mundo para ser pai ou mãe. Na sociedade atual, em que pais e mães vivem excessivamente atribulados, crianças e adolescentes carecem de orientação, referências, limites e valores que deem sentido às suas vidas. O autor faz um chamado para que seja assumida a responsabilidade da educação dos filhos, tarefa que não cabe exclusivamente às escolas, muito menos às mídias, apresentando uma reflexão extremamente lúcida das consequências dessa omissão, como a violência crescente entre grupo de adolescentes, a obesidade infantil, números estarrecedores de dependentes menores de idade de álcool e outras drogas etc. Esclarece ainda que o acesso à tv e à internet sem qualquer supervisão de pais que não filtram nem esclarecem mensagens de manipulação publicitária, puramente mercadocráticas, são alguns dos fatores responsáveis pelo desencadeamento dos males que cabe a pais e mães presentes e atentos estancar.
Em entrevista a Agencia Brasil, publicada pela Revista Exame: A obra, recentemente traduzida e lançada no Brasil, propicia às mães e aos pais uma reflexão profunda sobre o tipo de relacionamento que mantêm com os filhos. Na avaliação de Sinay, é cada vez mais comum, nos tempos atuais, que pais e filhos se percam em relações de consumo e de interesse – nas quais os pais compensem suas falhas e ausências com presentes (alguns caros); e os filhos, por sua vez, tenham tendência a se tornar adultos utilitaristas, ou seja, que só mantenham relações humanas que tragam interesse e em que haja possibilidade de tirar vantagem. “Ter um filho é um acidente biológico. Transformar essa peripécia em um fato transcendente e significativo, em um ato pleno de sentido, em uma contribuição ao aperfeiçoamento da vida humana e planetária, em um acontecimento espiritual que vai além do pessoal é um processo que requer consciência, compromisso, responsabilidade e amor”, escreve Sergio Sinay em seu livro. A seguir os principais trechos da entrevista do autor à Agência Brasil. Agência Brasil: A sociedade dos filhos órfãos é um sinal de falta de amor? Sergio Sinay: Não creio que seja falta de amor, mas a má maneira de demonstrar o amor. Muitos pais acreditam que amor se demonstra comprando coisas para os filhos, que o amor se demonstra com objetos, ou que o amor se demonstra convertendo-se em amigo dos filhos. Como pais, nossa missão não é ser amigo dos nossos filhos, mas ser pais. Nossos filhos vão encontrar os amigos entre seus pares no colégio, no clube, nas suas práticas esportivas. Não estamos aqui para isso, mas para conduzi-los, para transmitir-lhes valores morais, modelos de relação com outras pessoas; modelos onde nossos filhos aprendam a tratar as pessoas como se fossem fim e não meio ou instrumentos. ABr: O que isso quer dizer? Sinay: Estamos vivendo um momento em que as pessoas se relacionam de maneira utilitária: “se tu me serve, então me relaciono contigo” ou “se deixasse de me servir, te abandono”. Isso se passa entre os casais, ocorre entre sócios, entre amigos e ocorre, muitas vezes, entre pais e filhos. Os pais esperam que os filhos correspondam as suas expectativas. Se o pai jogou mal futebol quer que o filho seja um Neymar, pelo menos. E também acontece o contrário. Se o pai foi um grande médico, também quer que o filho seja médico e continue sua carreira. Os pais estão se esquecendo que os filhos são pessoas que devem ajudar a crescer. Muitas vezes querem que os filhos tenham sucesso, tornem-se grandes empresários, mas não se preocupam como vão se tornar como pessoas. ABr: Há um problema no comportamento dos pais? Sinay: Muitos têm comportamento igual ao de um adolescente que pensa que só tem direitos, mas não tem deveres. Os pais delegam às escola, à internet, aos avós. Alguns pais querem viver como se fossem solteiros ou como se não tivessem filhos e ter tempo para fazer as suas coisas. Sentem que os filhos são como uma carga, matriculam os filhos em colégios caros e quando o colégio chama os pais para falar sobre os filhos, protestam com o colégio porque, se pagam tão caro, a escola não deve chamá-los. Mas criar os filhos não é a função da escola, isso continua a ser obrigação dos pais.